10 de outubro de 2014

Revista GOL/Outubro: Caminho Florido

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Caminho Florido - As sementes que Alinne Moraes planta costumam brotar com vigor. Foi assim com a bem-sucedida carreira de modelo internacional e as elogiadas atuações em novelas. As mais recentes são o filho, Pedro, seu primeiro, e a atuação em Tim Maia, cinebiografia que estreia este mês.



POR Ines Garçoni
Fotos Ale de souza.


Alinne Moraes saiu de manhã para uma reunião de trabalho superproduzida, de salto alto e com toda maquiagem a que tinha direito. Na volta, trocou de roupa e virou para o marido, o cineasta Mauro Lima: “E aí, vamos sair para almoçar? Estou pronta”. Ele achou um desperdício vê-la de calça jeans surrada, moletom, cara limpa. “Puxa, você estava tão linda…”. A resposta veio rápida: “Mauro, aquela roupa é uma fantasia! Como uniforme de médico”.
A história, contada pela própria atriz, ilustra como ela, apesar de cuidar da própria imagem, não faz questão de reforçar a ideia de mulher sexy: “A beleza sempre me abriu portas, mas sou tranquila com relação à vaidade”. Há cinco meses, idade de Pedro, primeiro filho do casal, os momentos de calça jeans surrada e moletom têm sido ainda mais felizes. Longe dos holofotes há pouco mais de um ano, Alinne, aos 31, quer “viver a vida”, diz ela: “Se você me perguntar o que vou fazer amanhã, eu não sei. O que é que meu filho vai ser, também não sei. Não estou preocupada”.

Perder os 2 quilos a mais que ainda lhe restam depois de ganhar peso na gravidez, só se for sem esforço, durante a amamentação. E deixar o “bebê anjo” em casa, como ela o chama, para trabalhar, só no fim da licença-maternidade, em novembro. “Meu único planejamento agora é minha família, sabe? Estar presente.”

Quem quiser vê-la nas telas, no entanto, não precisa esperar muito. No fim de outubro está prevista a estreia do filme Tim Maia, dirigido pelo marido (o namoro começou um pouco antes do convite para o papel, mas ele não influiu na escolha). Lima, que a dirigiu pela primeira vez na cinebiografia, ficou surpreso ao descobrir o empenho de Alinne. “Eu não sabia que ela fazia com tanto prazer e dedicação. Foi admirável ver a sua entrega, seu mergulho na história. Parece até que a profissão dela não é atuar, porque se dedica como quem vai fazer aquilo pela primeira vez na vida”, diz ele.

Alinne vive Janaína, uma fã e seguidora de Roberto Carlos, Erasmo e outros artistas que, mais velha, se apaixona por Tim. A personagem não existiu na vida real. “Ela é uma síntese das mulheres da vida dele. É como se uma mulher fosse entrando na outra e elas se encontrassem na Janaína”, explica a atriz. O filme narra a vida do cantor da adolescência à morte, e os atores são trocados a cada fase das personagens, com exceção de Alinne.



“Meu maior desafio nesse trabalho foi acreditar naquela inocência e interpretar uma menininha. Porque eu não sou mais uma.”

Faz tempo. “Comecei a trabalhar muito cedo, e o meu maior sonho era ter independência financeira para viver 100% este momento: ter minha casa, meu filho, minha família.” Alinne iniciou uma carreira bem-sucedida de modelo internacional aos 12 anos, quando partiu para morar em Paris, Tóquio e Nova York. Aos 17, comprou uma casa de presente para a mãe, em Sorocaba, no interior de São Paulo, sua cidade natal. No ano seguinte, convocada pelo diretor Ricardo Waddington, estreou como atriz em Coração de estudante, novela das 6, e só parou mais de 20 personagens depois (ela perdeu as contas), ao engravidar de Pedro – e recusar o papel de Marina, de Em família.

Seria a segunda personagem gay de sua carreira e a terceira novela do autor Manoel Carlos. Alinne cresceu e apareceu quando deu vida a Clara, namorada de Rafaela, interpretada pela atriz Paula Picarelli, em Mulheres apaixonadas. O carisma do casal era tanto que o público aceitou uma relação entre mulheres. “Lembro que, dois anos antes, na novela Torre de babel, um casal formado por Christiane Torloni e Silvia Pfeifer foi assassinado porque o público simplesmente não aceitou. Então, acho que mudamos algo, abrimos algumas portas. Foi um primeiro passo”, lembra Alinne. Depois, do mesmo autor, veio Luciana, de Viver a vida, personagem paraplégica para a qual fez exaustivos laboratórios, e que rendeu à atriz muitos elogios.

Há alguns meses, está às voltas com a ideia de interpretar a cafetina Eny Cezarino (1916-1997), dona de um prostíbulo em Bauru, considerado o maior do país, na minissérie Dama da noite, de Walther Negrão e Suzana Pires, que deve estrear em 2015. Mas a atriz não confirma, e desconversa. “Gosto de me encantar pelo personagem e espero que ele me traga outros olhares, me instigue e me transforme como pessoa.” Assim foi quando aceitou o primeiro papel de comédia, no seriado Sexo frágil, há dez anos, a convite do diretor João Falcão. Não tinha a menor intimidade com o gênero.

Depois, teve atuações cômicas importantes nos seriados Minha nada mole vida, Como aproveitar o fim do mundo e O dentista mascarado, além dos filmes Os normais 2 e O homem do futuro. “As pessoas devem gostar porque eu sou careteira, tenho olhão e bocão. É até exagerado. São as armas que uso a meu favor na comédia”, conta a atriz. “Mas, na verdade, não me acho nem um pouco engraçada. Fico muito tensa. São os trabalhos mais difíceis para mim”, confessa. João Falcão discorda: “O talento e o carisma de Alinne me impressionaram desde suas primeiras atuações. É uma estrela radiante”, diz ele.

Sorocaba

Três ou quatro vezes por ano, Alinne volta a Sorocaba. Ela deixou a cidade aos 12, e tudo por lá a remete à infância, época em que matava galinhas na chácara, brincava de amarelinha, jogava vôlei na rua, tomava sorvete na praça e era chamada de “vassoura” na escola. Ainda carregava apenas um “n” no nome, era Aline Cristine Dorelli de Magalhães Morais (com “i”) – ela mudou aos 17 anos, orientada pela numerologia, e hoje considera “meio cafona”.

Criada pela mãe e pela avó, a atriz só aos 20 conheceu o pai, um fotógrafo com quem sua mãe, Ana Cecília, viveu um rápido romance e que só procurou a filha ao vê-la na televisão. O encontro aconteceu sem grandes traumas, e ele morreu pouco tempo depois. Em 2010, Alinne ganhou o título de cidadã emérita de Sorocaba. Chorou durante a cerimônia. “Sinto saudades e vou para lá menos do que eu gostaria”, diz. “Na gravidez, acho que começa um processo que te remete à infância, à família e à mãe, principalmente. É um resgate.”

Sem expectativas

Se hoje busca lembranças do passado, sobre o futuro ela não quer nem pensar, pelo menos por enquanto. Sobretudo se o assunto for o filho. Os tempos de personalidade ansiosa e controladora ficaram para trás há alguns anos, ela garante. “Não quero criar qualquer expectativa em cima do Pedro. Só quero que ele seja feliz.” Segundo ela, a babá já sabe que, quando ele começar a se vestir, tem total liberdade. “Se escolher brincar de boneca e não de carrinho, ok também. Quero que ele seja o que quiser, sabe? E tento ser uma mãe tranquila, na medida do possível.”

Tranquilidade, até aqui, Alinne tem tido. O bebê dorme das 11 da noite às 7 da manhã sem interrupções, ela conta, e o casal consegue até sair para a balada – graças à babá e às câmeras instaladas pela casa, controladas por Alinne no celular. “Sempre gostei muito de dançar, faço balé há 12 anos, é uma terapia. Sair para a noite nos fins de semana é religioso para nós. A gente volta às 7 da manhã. Gosto de ver o dia nascer, fico feliz.”

A produção para a noite, na maioria das vezes, é sexy, inclui salto alto e toda maquiagem a que tem direito. Uma espécie de fantasia, como uniforme de médico. Na volta para casa, Alinne troca de roupa e vai ser feliz de moletom e calça jeans surrada.



Esta matéria foi publicada na edição número 151 da revista de bordo da GOL, produzida pela editora TRIP.







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